Maria João

Luanda, 1969. O ano em que nasceu e em que tantas coisas mudaram no mundo: chegámos pela primeira vez à Lua e os Beatles lançaram o Yellow Submarine. Mas chega de falar da história dos outros. Maria João Mesquita Castelo Hick é o seu nome e esta é a sua história.

Estados Unidos da América, 1971. Dois anos depois está a atravessar o Atlântico, em direção ao país do Tio Sam. Foi na capital, Washington, DC, que viveu a maior parte dos nove anos que passou nos EUA. E, nesses anos, não podia ter tido uma melhor infância e educação. Afinal, estava no país do American Dream. Os pais de Maria João eram muito ativos na comunidade portuguesa na capital americana. Por isso, faziam muitas atividades significativas e tinha bons amigos.

Portugal, 1980. Uma nova década, uma nova mudança. Voltou a cruzar o oceano que separa a América da Europa, juntamente com os seus pais. Desta vez, em direção a este retângulo à beira mar plantado. Quando fez dez anos, já tinha vivido em três países diferentes. Agora, estava a assentar raízes em Ajuda e Belém.

 

Foi assim que, em Lisboa, fez o resto da sua vida escolar. Um país diferente, mas algumas coisas não mudaram. Tinha, novamente, um bom grupo de amigos. Em 1997, Maria João terminou a sua Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas – variante de Português/Inglês. Aquele que considera, sem qualquer dúvida, o seu maior sucesso.

Depois da licenciatura, foi professora durante dois anos da disciplina de Religião. Ainda hoje Maria João é uma pessoa religiosa. Gosta de assistir à missa, de receber a Eucaristia. O resto da vida profissional foi passada como Vídeo Arquivista e no Secretariado de Redação. Ajudou mesmo a produzir um noticiário católico que passava na RTP 2. Crescia um bichinho pela arte e fotografia.

 

2008. Foi o ano em que casou com o seu David. Já se conheciam há algum tempo e decidiram passar o resto da vida juntos. Desde então moram em Algés e Belém.

2023. Hoje, com 53 anos, Maria João passa os dias da semana numa instituição que apoia pessoas com demência. O seu amor maior continua a ser fotografia e arte. Por isso, no seu dia a dia, é isso que continua a fazer. Faz arte, mas também cozinha, e outras atividades que ajudam a estimular a memória e a criar lembranças.  

 

Não tem filhos, nem netos. Mas tem quatro grandes paixões: os seus animais de estimação. Maria João e David têm três gatas, a Piccolina, a Cookie e a Ciara e um cão chamado Tejo.

 

A palavra que melhor a define? Compassiva. Porque, apesar de os seus animais serem o seu grande amor, também adora falar com pessoas e ajudá-las. Se ainda pudesse concretizar um sonho, seria abrir o seu próprio negócio. Uma loja onde venderia as suas fotografias. Os retratos, tal como o que acompanha a história de Maria João, perduram para além da vida. As memórias nem sempre. Mas arrependimentos? Não. Nem um. “Vivi a minha vida o melhor que pude”.